Classificação Vocal no Canto Popular é importante? É necessária? Serve pra quê?

Classificação Vocal no Canto Popular

A classificação vocal não foi inventada pelo canto lírico, a classificação vocal é fisiológica, é biológica e ela é a mesma em qualquer estilo de música, porém na música popular há mais flexibilidade no uso da voz, diferente do canto lírico, na maioria das vezes, a extensão vocal (notas alcançadas) é mais relevante do que a Tessitura Vocal (que é uma parte de cerca de 2 oitavas da voz humana em que a voz apresenta sua melhor qualidade de timbre, volume sem muito esforço, e que é mais confortável).

Espera-se de uma voz treinada para cantar Ópera, que essa voz apresente o máximo de semelhança entre os registros vocais, como se o cantor estivesse cantando com o mesmo registro vocal o tempo todo.

Já na música popular na maioria das vezes os artistas não tem essa preocupação, sendo muito comum especialmente as mulheres terem até contrastes em seus registros vocais, não havendo um equilíbrio de registros tão regular quanto o lírico.

Não que no lírico não haja nenhuma diferença entre os registros, porém a tendência natural do lírico é dar ao ouvinte, especialmente o leigo (que não estudou técnica vocal ou o bastante para entender de passaggio, que é a troca de registos) a ilusão de que o cantor e a cantora não muda o timbre da voz enquanto leva sua voz ao seu extremo agudo e volta desse agudo até o seu extremo grave.

Já no Canto popular, especialmente as cantoras geralmente não tem o hábito de chegar em notas tão agudas quanto fazem as cantoras líricas, claro que sim, existem as cantoras populares que fazem até mais agudos do que seu tipo de voz tecnicamente exige, porém esse estilo de canto feminino é raro.

No caso dos homens até é comum cantar até mais agudo do que seu tipo de voz exige. Porém não são a maioria dos cantores que fazem isso. A maioria cantam numa região um pouco aguda, porém geralmente não tanto quanto os cantores líricos, ou até fazem como eles em algumas músicas, mas não em todo o seu repertório.

Não que não seja necessário o equilíbrio, a mistura de registros buscando uma equalização mais semelhante, nivelando o mais proporcionalmente possível os registros na música popular, porém, nos estilos de música popular é geralmente comum não haver a intenção de buscar um timbre semelhante o tempo todo durante toda a música, apesar que o cantor e a cantora devem ser capazes de fazer isso, eles poderão por escolha de interpretação e não por falta de técnica alternar entre várias formas de usar a voz, inclusive formas muito diferentes entre si e em várias regiões da música, sendo que as mesmas frases e notas musicais podem ser trabalhadas de várias formas diferentes numa mesma música como jamais aconteceria dessa maneira no lírico.

É sempre importante levar em consideração o estilo musical que o artista está cantando para entendermos a sua proposta musical, a sua musicalidade.

Existem subclassificações específicas do canto lírico sim, mas a maioria delas são fisiológicas, biológicas, ou seja, em qualquer estilo de música, elas não mudam.

Exemplo, se você é uma Soprano Dramático, em qualquer estilo você vai soar com uma voz mais encorpada, profunda, pesada sem ser tensionada etc... Do que uma Soprano Ligeiro que vai soar totalmente o contrário disso.

Existem certos termos que refletem uma habilidade do cantor ou cantora, geralmente das cantoras.

Exemplo o termo Coloratura se refere a cantoras especialmente Sopranos que tiveram maior preparo técnico para realizar coloraturas, que costumam ser chamadas hoje de melismas. São aquelas voltinhas. O Soprano Ligeiro é geralmente chamado de Soprano Coloratura porque geralmente é a voz que mais faz melismas no Canto Lírico, isso porque o agudo desse tipo de Soprano é semelhante a um Falsete de tão leve, por isso as voltinhas são mais usadas nesse tipo de voz porque pra quem ouve provavelmente se tem a sensação de que é mais fácil pra esse tipo de voz fazer isso, mas na prática, não necessariamente é assim, mas por o timbre ser leve, suave. Parece que a cantora faz menos força, já considerando que essa força nunca deve ser excessiva, mas parece a julgar pela sonoridade que é muito mais fácil os agudos e ter mais flexibilidade nesse agudo do que para as outras Sopranos, porém a flexibilidade varia muito de pessoa para pessoa e apesar de haver essa probabilidade, nem sempre uma pessoa de voz aguda é fisicamente mais flexível do ponto de vista vocal.

Na minha opinião o termo mais correto é Soprano Ligeiro. Uma vez que existe também o Soprano Dramático Coloratura por exemplo.

O Soprano Dramático é o mais grave e mesmo assim pode fazer Coloraturas, logo no meu ponto de vista, coloratura é uma aptidão técnica dessa Soprano Dramático.

Mas não há um consenso dentro do Canto Lírico sobre quantas classificações vocais existem e o nome delas também varia bastante.

Algumas abordagens reconhecem a existência por exemplo do Mezzo Soprano Ligeiro e outras dizem que esse Mezzo não existe, são Mezzo Sopranos Líricos ou Sopranos Dramáticos etc...

Busque o que mais se aproxima de sua voz, pois nenhum tipo de classificação é perfeito, e cada voz é única. Nenhuma ciência humana é absoluta totalmente e essa subjetividade, você vai encontrar também no estudo do Canto.

Sem enrolar mais, vamos ao que interessa.

Um dos maiores erros dos cantores populares amadores e até profissionais é não entenderem o seu próprio timbre de voz.

Isso aconteceu comigo.

A culpa muitas vezes é colocada no microfone, no celular, no som, mas a verdade é que muitas vezes nós não conhecemos o timbre da nossa voz.

Por medo, vergonha, referências erradas, instruções musicais ou não que são erradas, especialmente os meninos.

Existe uma idealização do timbre grave masculino como sendo um símbolo e uma condição para comprovar sua heterossexualidade e masculinidade.

Em pleno século XXI ainda sobrevive essa irracional cultura do padrão de masculinidade exageradamente diferente da feminilidade, mas isso é assunto para outro post.

Ás vezes você quer desenvolver um tipo de voz que é incompatível com a anatomia e a fisiologia do seu corpo, sua genética não é compatível com esse timbre que você quer desenvolver, especialmente a parte interna, a anatomia das mucosas, músculos etc.. Que são responsáveis pela produção da sua voz.

É preciso que você se conscientize que o seu tipo de voz já é predeterminado pela sua genética, embora grande parte desse timbre só se revelará após certo tempo de estudo e estudo com qualidade, essa evolução está dentro de uma lógica previsível.

Pela sua própria voz falada já dá pra saber se a sua voz não será assim tão grave ou tão aguda demais.

Então as classificações vocais são parte de uma literatura pedagógica que servem como referências para você entender como funciona a sua voz, quais notas são mais fáceis ou mais difíceis, já considerando que nunca você deve forçar a voz, existe um esforço, mas ele deve ser o mínimo possível. Quais são as notas onde o timbre da sua voz tem mais qualidade, podem haver diferenças importantes em relação às vozes de outros cantores que você tem como referência. Ás vezes você precisará aumentar até 3 tons e meio se a música for muito grave, de uma Contralto por exemplo e você é Soprano. Ou do Baixo para o Tenor por exemplo.

É importante também diferenciar Tessitura de Extensão.

A Tessitura da voz é a mesma para todos que possuem aquele tipo de voz, a a extensão vocal não, ela varia de pessoa pra pessoa.

Tessitura = Notas mais fáceis e que sua voz soa com mais características, sem grandes mudanças em comparação com outras regiões da sua voz, onde seu timbre apresenta maior diferença em relação a notas dessa região.

Extensão = Todas as notas que você alcança, ainda que hajam grandes e notáveis diferenças no timbre da sua voz enquanto as executa.

Mesmo que você esteja cantando suave, a Tessitura não muda.

Sempre será a mesma região que custará menos trabalho pra você ter uma voz com menos variação no timbre e mais facilidade.

Vale ressaltar que na Tessitura é mais sutil as mudanças no timbre, mas elas sempre existem se o cantor usar toda a sua Tessitura, a menos que a melodia não tenha uma grande quantidade de notas e o cantor ou cantora cante em apenas uma parte da sua zona de conforto ou Tessitura, essas mudanças no timbre da voz serão imprescindíveis para usar todas as notas do seu tipo de voz. Conforme você for estudando e praticando corretamente, a tendência é ficarem cada vez mais discretas essas mudanças dentro da tessitura. Fora da tessitura não tem jeito, sempre será perceptível a mudança no timbre, para l o cantor ou cantora líricos, geralmente essas notas não servem, a menos no caso dos Homens que cantam como Contratenor Falsetista ou raras exceções do tipo.

Na música popular essas notas fora da tessitura podem e geral mente são muito usadas como recurso de interpretação.

Mas é muito importante usar corretamente a sua voz nessa região e nem todos têm muitas notas nessa região fora da zona natural da voz.

 Nessa região, seu timbre terá menos volume e menos riqueza nas características de sua voz, se seu objetivo é cantar a música inteira com a voz o mais nivelada possível, do ponto de vista do timbre, soar o mais parecido possível, como se fosse um registro só, jamais você pode usar essa região. Mas geralmente você não terá essa preocupação, pois não é muito comum em estilos não clássicos.

Então é isso.

A classificação vocal não é um título para se ostentar.

Mas sim uma referência pedagógica e técnica pra te ajudar a desenvolver e trabalhar a sua voz da melhor forma.

Nenhuma classificação vocal é melhor que a outra, pois se você é agudo, não terá um grave como de uma voz grave e vice versa. E se é médio, os extremos de sua voz terá menos qualidade que os graves e agudos.

Ou seja no final, não é algo qualitativo e sim técnico.

Você não canta bem por ser agudo, médio, grave etc...

Mas sim por usar a sua voz corretamente e essas classificações te ajudarão com isso.

Por isso, sim.

A classificação e a maioria das subclassificação líricas são fisiológicas e foram apenas descobertas e organizadas pelo Canto Lírico, mas são resultado da sua genética e não de uma abordagem literária, salvo algumas exceções como as já citadas.

Vale lembrar que o que hoje é considerado canto lírico provavelmente era a música popular da época, essa separação provavelmente surgiu depois com a maior difusão de outros gêneros de música que não se enquadram dentro dos padrões do Canto Lírico.

A classificação vocal errada é perigosa.

Pode te levar a forçar um timbre  especialmente mais grave do que você realmente tem, através de tensionar a voz, o que atrapalhará e até impedirá se o esforço a mais for muito grande, o desenvolvimento da parte alta natural da sua voz, dos seus médios e agudos.

A voz soará forçada, será cansativo cantar assim e se usada por muito tempo nessas condições, você pode desenvolver doenças vocais provocadas pelo abuso vocal.

O abuso vocal é você fazer mais esforço do que o que é saudável fazer.

A saúde vocal é tudo para um cantor.
E qualquer método de canto deve se submeter a ela.

Um método que coloca a saúde da sua voz em risco, é um método que não funciona.

Por enquanto é só. Tem muita coisa ora falar sobre esse assunto, mas não cabem tudo n post só.

Um grande abraço e aguardem

Grandes novidades virão.




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